quinta-feira, 17 de abril de 2025

Figuras das Trevas na Teologia Abraâmica: Um Estudo Comparativo sobre Belial, Baal, Lúcifer, Anticristo e Satanás.

Chester News Especial | Religião e Filosofia. 


Abril de 2025 d. C. 



Figuras das Trevas na Teologia Abraâmica: Um Estudo Comparativo sobre Belial, Baal, Lúcifer, Anticristo e Satanás. 


Resumo: Este artigo investiga as distinções entre cinco figuras frequentemente associadas ao mal na tradição abraâmica: Belial, Baal, Lúcifer, Anticristo e Satanás. Embora muitas vezes usados como sinônimos na cultura popular e mesmo em discursos teológicos superficiais, essas entidades possuem origens, contextos e significados distintos nas três principais religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. O estudo fundamenta-se na Torá, no Novo Testamento e no Alcorão.





1. Belial


Na Torá (Tanakh): O termo hebraico Beliyyaal aparece em Deuteronômio 13:13 e 1 Samuel 2:12, referindo-se a "filhos de Belial" como pessoas perversas ou sem valor. Não é uma entidade espiritual autônoma, mas um adjetivo moral.


No Novo Testamento: Em 2 Coríntios 6:15, Belial é contraposto a Cristo: "Que concórdia há entre Cristo e Belial?" Aqui, o nome ganha status quase pessoal, representando o princípio do mal.


No Alcorão: Belial não é mencionado, mas seu conceito é refletido nas ações dos shayatin (demônios) que induzem os humanos ao erro (cf. Surata 6:112).




2. Baal


Na Torá (Tanakh): Baal é o nome de diversos deuses cananeus. Elias confronta os profetas de Baal em 1 Reis 18, denunciando a idolatria. O nome também aparece como Baal-Zebube ("senhor das moscas") em 2 Reis 1:2.


No Novo Testamento: Em Mateus 12:24, os fariseus acusam Jesus de expulsar demônios por Beelzebu, uma distorção grega de Baal-Zebube. É associado a Satanás.


No Alcorão: A Surata 37:125 menciona Baal como um falso deus adorado pelo povo do profeta Elias (Ilyas), que condena essa prática.





3. Lúcifer


Na Torá (Tanakh): Isaías 14:12 menciona Helel ben Shachar (“estrela da manhã, filho da alva”), dirigido ao rei da Babilônia. A tradição judaica não interpreta esse texto como alusão a uma entidade demoníaca.


No Novo Testamento: A tradição cristã identifica Lúcifer como o nome do anjo antes de sua queda, relacionando Isaías 14 a Lucas 10:18 (“Vi Satanás caindo do céu como um relâmpago”) e Apocalipse 12.


No Alcorão: O conceito de Lúcifer não aparece. O paralelo é Iblis, um jinn que se recusou a se prostrar a Adão (Surata 18:50), caindo por orgulho.





4. Anticristo


Na Torá (Tanakh): Não há uma figura idêntica ao Anticristo, mas há menção a falsos profetas e lideranças que levarão Israel ao erro (cf. Deuteronômio 13).


No Novo Testamento: A figura aparece nas cartas joaninas (1 João 2:18, 22) como aquele que nega que Jesus é o Cristo. Em 2 Tessalonicenses 2:3-4, é chamado de "homem do pecado". Apocalipse 13 descreve a Besta, muitas vezes associada ao Anticristo.


No Alcorão: A figura correspondente é al-Masih ad-Dajjal (o falso messias), ausente no texto do Alcorão, mas presente nos hadiths. Ele aparecerá antes do Juízo Final e será derrotado por Isa (Jesus).





5. Satanás


Na Torá (Tanakh): Satan é inicialmente um papel, não um nome. Em Jó 1–2, ele é um acusador celestial. Em Zacarias 3:1–2, aparece como o oponente do sumo sacerdote Josué. Sua personificação como ser maligno é tardia.


No Novo Testamento: Satanás é claramente identificado como o inimigo de Deus, o tentador de Jesus (Mateus 4), e o dragão do Apocalipse 12.


No Alcorão: Shaytan ou Iblis é o jinn que se rebela contra Deus. Em Surata 7:11-18, ele promete desviar a humanidade até o Dia do Juízo.





Conclusão


A tradição abraâmica compartilha muitos temas quanto à existência do mal, mas as figuras associadas a ele são distintas e evoluem com o tempo e o contexto. Belial representa o princípio da perversidade; Baal, a idolatria pagã; Lúcifer, a queda pelo orgulho; o Anticristo, o engano escatológico; e Satanás/Iblis, o adversário por excelência. Reconhecer essas distinções é essencial para uma teologia comparada mais precisa e respeitosa.




Referências:


Torá/Tanakh: Deuteronômio 13, 1 Samuel 2, 1 Reis 18, Isaías 14, Jó 1–2.


Novo Testamento: 2 Coríntios 6:15, Mateus 4 e 12, Lucas 10:18, Apocalipse 12 e 13.


Alcorão: Suratas 6:112, 7:11-18, 18:50, 37:125.


Hadiths: Sahih Muslim e Sahih al-Bukhari sobre Dajjal.


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